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Coincidências ou desígnios, a fé cristã explica
Jones Figueirêdo Alves
O Papa Leão XIV chama-se Francisco, no prenome composto Robert Francis (Roberto Francisco) do seu nome de nascimento (14.09.1955). Sucessor de Pedro (30/67 d.C), o primeiro Bispo de Roma e fundador da Igreja Católica, o novo Papa também representa a continuidade do pontificado de Francisco (2013/2025). Ambos, naturais do continente América e oriundos de ordens religiosas (jesuíta e agostiniana).
Coincidência outra é a Missa de Entronização ou de Investidura Eclesiástica do novo pontífice, a Missa Inaugural, que será celebrada no próximo domingo (18/05), marcando oficialmente o início do seu comando da Igreja e do pontificado. Em mesmo dia e mês do aniversário de nascimento do Papa João Paulo II (18.05.1920), nascido em Wadowice, na Polônia.
A missa, desde a posse de João Paulo I (1978), não mais inclui a cerimônia de coroação papal, existente por 820 anos (1143-1963). Paulo VI foi o último coroado, a usar uma tiara papal. A cerimônia envolve, apenas, a outorga formal do pálio, que simboliza a jurisdição universal do Papa, colocado pelo cardeal- diácono sênior.
Casualidades descrevem eventos que, de forma intercambiável, ocorrem por mera coincidência ou serão desígnios de Deus que somente a fé cristã explica.
Robert Francis preferiu adotar prenome diferente do seu prenome batismal, chamando-se Leão XIV, referenciando seu pontificado ao de Leão XIII (1878- 1903).
Inovador sob uma travessia secular, com sua Encíclica “Rerum Novarum” (1891), lançou as bases institucionais e teóricas da Doutrina Social da Igreja, com temas relevantes como a questão operária, os direitos dos trabalhadores e a justiça social. Conciliou a tradição da Igreja com os desafios do mundo moderno adveniente de um novo século; notadamente nas áreas social, filosófica e diplomática. Problemas socio-econômicos nas suas realidades temporais.
Segundo o historiador português José Miguel Sardica, a “Rerum Novarum” rejeitou os extremos do socialismo e do capitalismo, “propondo um caminho alternativo baseado na dignidade da pessoa, no papel moderador do Estado e na justiça social”. Representou um novo posicionamento da Igreja diante das ideologias do século XIX”.
É o que ora se repete, quando Leão XIV enfrenta novos desafios, a exemplo dos predomínios da tecnologia dominante, do poder do dinheiro e da busca material de prazer e de riqueza, em detrimento da espiritualidade. Ele também rejeita os extremos e, igualmente, sinaliza caminhos satisfativos; indicados pela fé cristã, em defesa da justiça social.
Leão XIII notabilizou-se, ainda, por suas dez encíclicas sobre o Rosário, (entre 1883 e 1898),1883 e 1898), anotando-se que foi o então Cardeal Robert Francis Prevost, durante a última hospitalização do Papa Francisco quem presidiu o Rosário por sua saúde (03.03.2025) na Praça São Pedro.
Coincidentemente, Leao XIII (31.12.1837) e Leão XIV (19.06.1982) foram ordenados sacerdotes aos 27 anos.
A primeira vez que um pontífice escolheu outro nome teve lugar com o Papa João II, no século VI (ano 533), nascido Mercúrio. Optou, então, rejeitá-lo, porquanto tratar-se de nome de divindade mitológica pagã, nada católico.
O segundo a adotar um novo nome foi João XIV, no século X. Seu nome de batismo era Pedro Canepanova e ele não queria ser Pedro II. Aliás, nenhum papa repetiu o nome de Pedro. No século XII, São Malaquias, arcebispo irlandês, profetizou em lista dos futuros pontífices (1139) que o último papa da história seria chamado “Petrus Romanus” (Pedro, o Romano; o Pedro II).
A exemplo de Leão XIII, que teve intensa produção de documentos eclesiásticos, Leão XIV, por certo, também será prolífico nos textos teológicos, com idênticas diretivas da doutrina social da Igreja e destinando suas atenções aos mais pobres.
O novo Papa tem um instigante perfil multicultural. Nascido em Chicago (Illinois, EUA), com mãe de ascendência espanhola (Mildred Martínez) e pai de ascendência franco-italiana (Louis Marius Prevost), e familiares no noroeste da França (Normandia), vivenciou uma longa experiencia missionária no Peru (1988-1999 e 2014-2023); obtendo a nacionalidade peruana (24.08.2015).
Constitui e representa Leão XIV uma Igreja de diálogo, missionária e pastoral, de braços abertos. Assim ele a identificou, depois de apresentado, em latim, à multidão de fiéis na sacada da Basílica de São Pedro. Abriu largamente os braços, em manifesto sinal de aproximação espiritual com todos.
“A paz esteja com todos vocês” foram as suas primeiras palavras. Essa paz, "uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante, que provém de Deus", será a missão do seu trabalho pastoral. Desafiada por um cenário geopolítico de nacionalismos extremos, que não respeita a concórdia entre os povos e, tampouco, os mais vulneráveis. Uma paz protegida, porém, por uma fé cristã, agostiniana, que tudo explica, recomenda e orienta.
Na sua primeira missa, Leão XIV iniciou a homilia, repetindo o Salmo Responsorial: “Cantai ao Senhor um cântico novo, pelas maravilhas que Ele ensinou” (Salmo 98.1). Um cântico de gratidão pelas bençãos recebidas. A gratidão pode trazer paz interior, fortalecer a fé e inspirar ações positivas no mundo. Em tempo de incertezas, a fé cristã transforma o mundo e busca a concórdia.
Jones Figueirêdo Alves é Desembargador Emérito do TJPE. Advogado e parecerista
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